Exame – Mauro Halfeld lança gestora e mira ações ‘ocultas’ em bolsas globais

Os muitos anos em programas de rádio e artigos nos maiores jornais do país fizeram de Mauro Halfeld uma das principais vozes do Brasil quando o assunto é finanças pessoais. Mas o que nem todos sabem é que, além de professor, engenheiro e autor de best sellers, Halfeld é gestor desde 1996, época em que desenvolveu alguns dos primeiros sistemas quantitativos do mercado brasileiro. Os modelos, aprimorados durante mais de 20 anos, se tornaram um dos pilares de sua nova gestora, a DauerCapital.

É com essa tecnologia que seus fundos procuram por tesouros escondidos em bolsas de valores do mundo inteiro, os chamados “hidden champions”. A expressão, que na tradução literal significa “campeãs ocultas”, é usada por investidores para se referir a empresas de sucesso, mas longe dos holofotes do grande público. 

“Um exemplo disso era a WEG (WEGE3). Ela é listada desde os anos 1970, mas tinha baixa liquidez e era muito pouco conhecida [até há pouco tempo]. Os donos são discretos, o endividamento é baixo e a empresa é extremamente rentável. Existem algumas empresas no mundo como a WEG”, afirmou Mauro Halfeld, sócio-fudandor da DauerCapital, em entrevista à EXAME Invest

Entre as “hidden champions” da casa destacam-se a finlandesa Valmet, a norueguesa Entra, a sueca Lifco e as suíças Lindt, Sonova e Schindler. Todas foram adquiridas em suas respectivas bolsas de origem, devido à maior liquidez. 

“A Schindler [fabricante de elevadores] dispensa apresentação, mas é uma empresa que sequer é negociada em Nova York, só na Suíça. Fomos lá comprar.” Entre os pontos que levaram à escolha da companhia, explicou Halfeld, está a receita recorrente. “É um modelo de negócios fantástico, porque, uma vez comprado, o elevador gera receita com manutenções. É muito difícil trocar de elevador.” 

Como funciona o sistema

João Seixas, diretor de risco e compliance da DauerCapital e ex-executivo do Itaú, disse que, sem a ferramenta desenvolvida por Halfeld, seria praticamente impossível fazer a seleção desses papéis. “Precisaríamos de alguém olhando todas as ações em todas as bolsas e países em que operamos para ranqueá-las por uma série de critérios.” Mas o trabalho humano, ressaltou, segue presente.  “O sistema aponta e, a partir daí, avaliamos o que está sendo indicado.”

união entre cérebro e máquina, comparou Halfeld, “é a mesma que a indústria aeronáutica faz há muito tempo”. “Um voo entre Brasil e Europa é cheio de equipamentos sofisticados, com quase tudo automatizado, mas mantem a bordo um sujeito de cabelo branco que trabalha duro no pouso, na decolagem e em momentos de turbulência. Se ele estiver dormindo e demorarem para chamá-lo, pode ser que o avião o caia.”

Para equilibrar as turbulências do mercado de ações, a gestora investe em ativos com correlação inversa ou descorrelacionados, como títulos públicos do Brasil e dos Estados Unidos, ouro e commodities. A proporção de cada classe no portfólio é definida pelos modelos quantitativos, que indicam as melhores escolhas de acordo com o momento. 

Inspiração em Ray Dalio

“A inspiração para isso tudo é um sistema chamado All Weather, que ficou muito famoso com o Ray Dalio”, diz Halfeld. O mecanismo, diz, ajuda a proporcionar a resiliência, já sugerida no nome da gestora. Dauer em alemão significa “resistência”. 

Dalio é um dos investidores mais bem-sucedidos da história, fundador da Bridgwater Associates, a maior gestora de hedge funds do mundo. E o All Weather é uma de suas principais estratégias, que consiste em compreender as ligações de causa e efeito nos ciclos econômicos e de mercado globais, além de enxergar de que forma isso atinge setores e companhias.

Em cima disso, a Bridgewater acrescenta uma abordagem sistemática para descrever esse entendimento de forma objetiva, para que seja possível testar a confiança na tese, simular retornos em cenários de estresse e pensar em limites de proteção. O resultado: um portfólio que permita navegar bem por qualquer ciclo econômico.

“Procuramos ter ativos reais, mas o problema deles é a volatilidade. Portanto, precisamos de algo que amorteça essas perdas, principalmente nos momentos de crash. Nossa estratégia é minimizar as perdas máximas e tornar a viagem de longo prazo mais tranquila”, disse Halfeld. 

Fundos Objetivo e Proativo

O fundo Halfeld Objetivo, o que roda há mais tempo na DauerCapital, com nove meses de vida, acumula rentabilidade positiva de 7,33%, enquanto o CDI rendeu 3,97% e o Ibovespa caiu mais de 10%, no período. 

Os resultados nos backtests são ainda mais expressivos. Em 2020, ano de chegada da pandemia, o fundo teria rendido 35,35%, com perda máxima de 1,65%. Nesse mesmo ano, o principal índice da B3 chegou a cair 36,86% e encerrou com ganhos de apenas 2,92%. O fundo é destinado a investidores qualificados, mas pode ser aberto ao público em geral se houver revisão de normas regulatórias. 

A opção disponível para todos os tipos de investidores é o fundo Halfeld Proativo, que terá rentabilidade divulgada no próximo 22 de janeiro, quando completará seis meses. Com mecanismos semelhantes aos do Objetivo, o fundo se diferencia na maior proporção de títulos públicos e menor exposição ao mercado internacional. Ambos não fazem uso de mecanismos de proteção cambial.

“A Dauer nasceu com o objetivo de oferecer fundos multimercados que buscam crescimento de capital em cenários de juros reais negativos”, explicou Leandro Bren Viana, sócio que lidera a frente de produtos (CPO) da Dauer e ex-diretor global da gestora do Santander. 

Com pé na renda fixa

A gestora agora se prepara para uma nova fase, com o lançamento de seu primeiro fundo de renda fixa. A previsão é a de que ele esteja aberto para todos os investidores ainda no primeiro trimestre deste ano.

“Não é mais a festa que tínhamos [na renda fixa] há dez ou quinze anos, mas ainda é possível conseguir um pequeno rendimento acima da inflação. Mas esse tem sido um desafio cada vez mais complicado conforme os bancos centrais pagam juros reais mais baixos”, afirmou Halfeld.

Assim como em seus produtos multimercados, o novo fundo da DauerCapital usará os modelos quantitativos na seleção dos papéis. Seus principais mercados de atuação serão os de títulos públicos do Brasil e dos Estados Unidos e o de crédito privado americano.

Por Guilherme Guilherme, Exame.

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